GERAL

ACE banca alimentação e combustível do presidente

Antes de Renan Alves, nenhum outro presidente teve seu carro abastecido ou despesas de alimentação pagas pela Associação Comercial de Santa Cruz

ACE banca alimentação e combustível do presidente

Renan Alves, presidente da ACE, usa cartão corporativo da ACE como particular

Publicado em: 27 de dezembro de 2023 às 14:50

Sérgio Fleury Moraes

 

A Associação Comercial e Empresarial de Santa Cruz do Rio Pardo (ACE) paga o combustível do carro particular do presidente da instituição, Renan Alves. Além disso, há gastos pessoais de alimentação em estabelecimentos da cidade e em outras localidades. As despesas contrariam o estatuto da entidade classista do comércio, que proíbe verbas de representação à diretoria. Antes da atual gestão, nenhum outro dirigente da ACE teve despesas pessoais custeadas pelos cofres da associação.

Renan Alves foi eleito para presidir a ACE no início de novembro, quando venceu o empresário José Sanches Marin nas eleições por uma diferença de 46 votos. Dono de um jornal e de uma empresa de eventos, ele também foi secretário de Comunicação durante o governo de Otacílio Parras (PSB), quando foi demitido por telefone em meio a uma polêmica envolvendo o então prefeito e o deputado Ricardo Madalena (PL).

O problema dos gastos com o presidente é que o estatuto da ACE proíbe expressamente verbas de representação para custear combustíveis ou alimentação. A única exceção é quando membros da diretoria vão representar a ACE em outras localidades, cujas despesas podem ser custeadas pela entidade. Entretanto, o estatuto diz que, neste caso, é preciso a aprovação dos conselhos Deliberativo e Fiscal.

Renan Alves se elegeu com uma plataforma eleitoral que privilegiava a transparência nos atos da Associação Comercial. Quando a reportagem recebeu as informações sobre os gastos, protocolou um requerimento pedindo cópias das despesas do cartão corporativo, o demonstrativo financeiro analítico e o relatório geral do caixa. O jornal apresentou o requerimento também na condição de associado.

 

Renan Alves usa o cartão corporativo da ACE como se fosse pessoal

 

O documento foi protocolado na ACE no dia 9 de novembro, mas não houve resposta. A informação é que o pedido estaria aguardando uma análise do setor jurídico. Segundo informações que o jornal recebeu, o vice-presidente da associação estaria defendendo a recusa em apresentar os documentos.

O vice é o advogado Francisco Júnior Bibiano, sócio da antiga usina Agrest, que funcionava em Espírito Santo do Turvo e que encerrou suas atividades em meio ao escândalo do Banco Rural com uma distribuidora de combustíveis. A Petroforte era a dona da antiga Sobar e, para evitar que a usina entrasse na massa falida, a distribuidora simulou um empréstimo com o Banco Rural, que por sua vez assumiu a indústria com o não pagamento. Em seguida, o Banco Rural arrendou a usina para a Agrest. Mas tudo foi descoberto e a usina voltou para a massa falida da Petroforte, sendo leiloada pela Justiça.

Na semana passada, a reportagem entrou em contato diretamente com Renan. O presidente da ACE disse que o requerimento ainda estava sob análise do setor. Quando o jornal propôs a Renan uma entrevista sobre o caso, ele disse que gostaria de receber as indagações por escrito. A reportagem enviou o questionamento por WhatsApp, mas também não obteve resposta.

De acordo com informações obtidas pelo jornal, o presidente da ACE gasta uma média de R$ 800 de alimentação em estabelecimentos de Santa Cruz do Rio Pardo – restaurantes e lanchonetes -, entre almoços e jantares. Há também despesas no McDonald’s de Ourinhos e no restaurante de luxo “Paris 6” da capital.

Além disso, os gastos em apenas três meses de combustível no veículo particular de Renan – um Jeep Renegade – foram de aproximadamente R$ 3,5 mil. A entidade possui um carro próprio, que é usado por funcionários para atividades ligadas ao comércio. O veiculo da ACE já foi usado por presidentes anteriores.

Todos os gastos são efetuados no cartão corporativo da ACE, que é utilizado exclusivamente pelo presidente da entidade.

O requerimento que a ACE não respondeu pediu as contas de 2022 para uma análise de comparação. É possível que os gastos de combustíveis, somente de alguns meses, superam em muito o total de 2022, quando a entidade estava sob outra gestão.

A fiscalização dos gastos, em tese, é feita pelo Conselho Fiscal da ACE e pelos demais membros da entidade. A reportagem localizou alguns desses dirigentes, mas nenhum deles sabia a respeito destes gastos. Da mesma forma, também não souberam dizer se há alguma ata em que a diretoria autorizou e respaldou estes gastos.

 

Mesmo com sua sede questionada pelo MP, a ACE não usou seu salão para seu eventual anual

 

Renan Alves adotou outras atitudes questionáveis, como a demissão da gerente Mara Araújo em novembro. Ela tinha 40 anos de trabalho na ACE e foi demitida, segundo o próprio presidente, numa medida para cortar despesas. Não há informações se a demissão de Mara tem relação com os gastos pessoais do presidente bancados pela ACE.

Na prática, porém, a associação aumentou suas despesas ao contratar empresas para atividades no comércio e até com aluguel de salão.

Este último gasto é curioso, pois a ACE é ré numa ação civil pública do Ministério Público que pede a devolução do prédio do antigo Clube dos Vinte, cedido em comodato há mais de 20 anos e cuja renovação do contrato foi suspenso. É que o estatuto original do clube diz que, no caso de sua dissolução, todo o seu patrimônio deve ser revertido a entidades de caridade. Em sua defesa, entre outras alegações, a ACE diz que perder sua atual sede seria uma espécie de “morte econômica” da instituição, ressaltando a exploração de seu salão de festas.

 

ÚLTIMA HOMENAGEM — Demitida por Renan, a gerente Mara Araújo foi homenageada num evento interno da ACE; em discurso, criticou a versão de que estaria “cansada” e precisava parar

 

Entretanto, a própria ACE não usou seu salão, como era tradição em outras diretorias, para a entrega do prêmio “Destaques Empresarial de 2023”. Para o evento, a entidade alugou o salão “Esplendor Hall” no dia 14 de novembro, cujo aluguel mínimo é de R$ 7 mil. O salão próprio, que durante muitos anos sediou a homenagem, foi dispensado.

Outro gasto considerado alto para a ACE dizem respeito às festividades natalinas. Neste ano, por exemplo, a entidade apresentou uma atração para os consumidores no calçadão da rua Conselheiro Dantas, a “Estação de Natal”, um imóvel totalmente enfeitado e com a presença de um “Papai Noel”. A inauguração foi no dia 8 de dezembro e agradou os consumidores.

Entretanto, na verdade a ACE “emprestou” um imóvel do empresário Jorge Raimundo, um local onde antes funcionava a “Canassa Pneus”. A associação bancou toda a reforma estrutural do prédio, inclusive a parte elétrica, para implantar a “Estação de Natal”. Entre enfeites e reformas, o custo ficou entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, mas o imóvel será devolvido no início de janeiro, sem qualquer ressarcimento financeiro.

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