"Lê" Zaia: autor dos tiros que matou a travesti "Mimi" diz que o empresário foi o mandante do crime
Publicado em: 10 de fevereiro de 2024 às 22:08
Sérgio Fleury Moraes
Willian Alves Feitosa César, que confessou à polícia ser o autor dos cinco tiros que mataram José Antônio Pereira da Silva Filho, a travesti “Mimi”, afirmou que o mandante do crime foi o empresário Alessandro Oliveira Zaia, conhecido como “Lê” Zaia. A declaração foi feita durante audiência de instrução no Fórum de Santa Cruz do Rio Pardo, no último dia 19.
A audiência ouviu testemunhas e réus. Os réus Willian Alves Feitosa e Rafael Aparecido da Silva foram ouvidos por videoconferência, pois ambos estão presos na penitenciária de Cerqueira César. Pelo menos uma testemunha foi conduzida coercitivamente pela Polícia Civil.
Nas próximas semanas, o juiz deve decidir sobre a pronúncia dos acusados e o fato de o crime ir a Júri popular. Neste caso, um grupo de jurados de Santa Cruz do Rio Pardo será sorteado para decidir se os réus são culpados ou inocentes.
O depoimento mais importante da audiência foi o de Willian Alves Feitosa César, que é réu confesso do assassinato de “Mimi”. Foi ele quem deu os cinco tiros que mataram a travesti na noite de 18 de abril do ano passado. O corpo de José Antônio foi encontrado num Fiat Pálio na avenida Rosa Pereira Nantes, no Jardim São João. A morte foi confirmada no local por paramédicos do Samu.
Os tiros foram dados nas costas. As investigações da Polícia Civil descobriram que Willian foi levado ao local pelo motoqueiro Rafael Aparecido da Silva, que nega participação no crime. O autor dos disparos foi preso em junho num condomínio em Hortolândia, na região de Campinas. Na ocasião, Rafael já estava preso por outro crime — tráfico de drogas.
A Polícia Civil apurou fortes indícios de que o empresário Alessandro Zaia, o “Lê Zaia”, seria o mandante do assassinato. Ele teria um relacionamento com “Mimi” e estaria sendo vítima de extorsão. As investigações encontraram vários depósitos de valores expressivos feitos por Zaia na conta bancária de Willian.
O empresário Alessandro Zaia é um dos diretores da indústria “Solito Alimentos”, uma das maiores empacotadoras de arroz de Santa Cruz do Rio Pardo e que também fabrica alimentos para cães e gatos. Ele foi preso no dia 7 de julho do ano passado, mas ganhou liberdade menos de três semanas depois, graças a um habeas corpus. A Justiça, entretanto, impôs uma série de restrições ao empresário, como permanecer em sua residência quando não estiver trabalhando.
Zaia nega ser o mandante do crime e diz que foi vítima de extorsão não apenas de “Mimi”, a quem fazia generosas entregas de dinheiro, mas também a outras pessoas que o ameaçaram, inclusive Willian Feitosa. Alessandro foi denunciado por homicídio, cuja pena varia de 6 a 20 anos.
Na audiência do último dia 19, Willian afirmou que matou “Mimi” a mando de Alessandro Zaia. Ele foi ouvido através de videoconferência diretamente da penitenciária, enquanto o empresário estava presente na audiência junto com seus advogados. Além de confessar ser o autor dos disparos, Willian disse que nunca antes havia sequer manuseado uma arma. Ele já havia admitido ter matado “Mimi” durante as investigações da Polícia Civil.
Willian também disse que teve problemas com “Mimi” no passado, como delações criminais sobre tráfico de drogas. Os dois eram dependentes químicos. Em juízo, o autor dos disparos admitiu ter “raiva” da travesti por estas “pendências” do passado.
Em entrevista ao portal “Diário Cidadão”, o advogado de Willian, Márcio Eduardo Peres Munhoz, confirmou que seu cliente disse que negociou com Alessandro Zaia a morte da travesti “Mimi”. Seguindo Márcio, Willian teria pedido R$ 20 mil adiantados — e depois mais R$ 5 mil — para comprar a arma. Posteriormente, houve outros depósitos.
O estopim para os acontecimentos foi o celular de “Mimi”, que teria sido “penhorado” na compra de drogas. O aparelho, então, foi adquirido pelo motoqueiro Rafael Aparecido da Silva na “boca de fumo”. Ele se surpreendeu ao ver imagens e mensagens trocadas entre a travesti e o empresário Alessandro Zaia. Amigo de Willian, ele ofereceu o celular para compra. Este, por sua vez, entrou em contato com o empresário da “Solito Alimentos”.
O advogado Márcio Peres Munhoz disse que não ficou claro que Willian estava extorquindo Alessandro Zaia. Ambos se encontraram e começaram a negociar a eliminação física de “Mimi”. O interesse, segundo Munhoz, seria mútuo: Zaia estaria sendo extorquido, enquanto Willian tinha ressentimentos devido a acontecimentos do passado.
“Todavia, em juízo, ele disse que sua intenção era apenas dar um susto. Porém, a situação no momento pendeu para um outro lado”, contou o advogado Munhoz. De acordo com a versão de Willian, houve uma discussão e, em seguida, os disparos.
Armado, Willian foi levado ao bairro na moto de Rafael, que foi instruído a retornar alguns minutos depois. Porém, havia gente no local e “Mimi” disse que iria comprar drogas, convidando Willian para ir junto. Na volta, o Fiat Pálio “apagou” num trecho escuro da avenida. “Mimi” estava ao volante, com Willian no banco do passageiro. Foi aí que houve a discussão sobre assuntos do passado e Willian disparou os cinco tiros.
Rafael disse em juízo que chegou a ouvir os estampidos de longe, mas não imaginou que seria um crime. Ele afirmou que, quando retornou ao local, disse que Willian estava calmo e não imaginou o que teria acontecido. Rafael disse que pensava que o amigo estaria comprando drogas, mas somente depois ficou sabendo do assassinato.
O celular da travesti, segundo depoimento do próprio Willian, foi destruído e descartado num riacho de Santa Cruz do Rio Pardo. A Polícia Civil fez buscas, mas não conseguiu recuperar o aparelho. O HD do computador de Alessandro Zaia, usado pelo empresário em seu escritório na “Solito”, foi apreendido, mas não revelou nenhum tipo de arquivo a não ser aqueles utilizados na contabilidade da empresa.
Outro ponto nebuloso no caso é o fato de o advogado de Alessandro Zaia ter supostamente instruído Willian Feitosa. A mulher de Willian disse, em depoimento à polícia, que o marido procurou Evandro Scudeler e foi orientado a deixar Santa Cruz do Rio Pardo. Ele, então, alugou um apartamento em Hortolândia.
Segundo apurou a reportagem, a mulher de Willian contou à Polícia Civil que o marido queria voltar para Santa Cruz e pediu ao advogado Scudeler para ver se era possível um frete de retorno de algum caminhão da “Solito” para transportar os móveis para a cidade. A orientação foi de que o frete deveria ser particular.
Além disso, assim que foi preso na penitenciária, Willian mandou duas cartas, uma à mulher e outra à mãe. No final dos dois textos, ambos manuscritos, ele pede para que elas procurassem o advogado, pedindo ajuda. A mulher também recebeu um depósito em sua conta, que Willian informou ser um “acerto” trabalhista da “Solito”.
“Lê” Zaia refutou tudo e nega ter tido um relacionamento amoroso com “Mimi”. Ele manteve sua versão de que foi vítima de extorsão de várias pessoas, citando pelo menos cinco nomes. A Justiça determinou a instauração de inquérito policial contra os envolvidos no delito penal de extorsão.
O juiz determinou que os advogados apresentem suas conclusões finais. A partir daí, o magistrado vai decidir sobre a pronúncia dos réus e possível encaminhamento do julgamento para o Tribunal do Júri. O advogado Márcio Eduardo Peres Munhoz acredita que o júri será realizado ainda neste ano.
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