O padre Gustavo Trindade será julgado pelo Júri Popular em abril
Publicado em: 10 de fevereiro de 2024 às 21:33
Sérgio Fleury Moraes
A Justiça marcou para 12 de abril o julgamento do padre Gustavo Trindade dos Santos, ex-pároco da Igreja Matriz de São Sebastião de Santa Cruz do Rio Pardo, acusado de homicídio qualificado. Em maio de 2022, Gustavo atropelou propositalmente Ângelo Marcos Santos Nogueira, que havia furtado moletons da Casa Paroquial. O homem ficou em coma e morreu dois meses após o acidente.
No despacho, o juiz Pedro de Castro e Sousa afirmou que “há elementos suficientes para a pronúncia do réu, devendo-se permitir que o Tribunal do Júri conheça com profundidade as teses defensivas e julgue o crime que é de sua competência”.
O magistrado já havia decidido há um ano que o homicídio era caso de Júri Popular. No entanto, o padre recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo contra a sentença de pronúncia, mas o apelo não foi provido.
A acusação de homicídio qualificado pode resultar numa condenação máxima de 20 anos de reclusão. A pena, entretanto, pode ser aumentada caso os jurados entendam que há qualificadoras para o crime.
Inicialmente o religioso foi denunciado pelo Ministério Público pelo crime de tentativa de homicídio. Porém, a vítima do atropelamento acabou não resistindo aos ferimentos e morreu pouco mais de dois meses após o fato. A tipificação, então, mudou para homicídio qualificado.
O crime aconteceu no dia 7 de maio de 2022, logo após o padre Gustavo celebrar um casamento na Igreja Matriz de São Sebastião. Minutos depois, ele foi avisado de que a Casa Paroquial, localizada a poucos metros da igreja, estava sendo furtada. Gustavo se dirigiu ao local e viu um vulto pulando o muro da propriedade.
O padre imediatamente pegou o carro da igreja – um Chevrolet Cobalt — e passou a perseguir o suspeito pelas ruas próximas da Igreja Matriz. O homem era Ângelo Marcos Santos Nogueira, um dependente químico que já havia sido condenado por pequenos furtos. Ele corria pelas ruas no entorno da igreja carregando nas mãos algumas peças de roupas furtadas da Casa Paroquial.
A Polícia Civil descobriu posteriormente que havia um outro homem no carro, sentado no banco do passageiro. Era um estudante da Escola Dominicana, que não teve qualquer participação no atropelamento.
O acidente aconteceu quando o padre fez a conversão na rua Farmacêutico Alziro de Souza Santos para a avenida Tiradentes. Perto de uma casa de tintas, ele avançou o carro pela calçada para atropelar propositalmente o suspeito, jogando-o contra um portão, invadindo uma garagem e esmagando o homem contra um caminhão que estava no interior.
Depois de atropelar o ladrão da Casa Paroquial, o padre Gustavo Trindade abandonou o local sem prestar socorro à vítima, que ficou agonizando dentro da garagem. Em seguida, o religioso deixou o carro avariado na Casa Paroquial e pegou um outro automóvel pertencente à Escola Dominicana, um Fiat Doblô, abandonando Santa Cruz do Rio Pardo com destino à região de Bauru.
Ângelo Nogueira sofreu ferimentos graves, foi internado em estado crítico e nunca mais se recuperou. Ele morreu em julho de 2022.
A Polícia Civil pediu duas vezes a prisão do padre Gustavo Trindade, que ficou um período desaparecido. A Justiça negou. Depois, o religioso acabou se apresentando à polícia e deu depoimentos contraditórios. Disse, por exemplo, que não estava arrependido de atropelar o ladrão e contou versões que foram facilmente desmentidas pelas imagens de câmeras de monitoramento que mostraram toda a cena.
No primeiro depoimento, o padre afirmou que o ladrão teria “se jogado” no capô do carro quando o veículo invadiu a calçada. Disse, ainda, que usou os freios do automóvel, mas as imagens provaram o contrário. Depois, em juízo, alterou estas versões e declarou estar “muito arrependido”. A defesa do padre tentou configurar o atropelamento como um “acidente”.
Enquanto aguarda o julgamento, o padre Gustavo Trindade dos Santos também responde a uma ação civil de indenização pela morte de Ângelo Nogueira. O processo foi ajuizado pela dona de casa Benedita Ângela dos Santos Nogueira, mãe da vítima.
A Diocese de Ourinhos também consta na ação como responsável solidária, uma vez que teria confiado o automóvel Chevrolet Cobalt ao padre.
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