O prefeito Diego Singolani (PSD), durante entrevista em seu gabinete, quando rebateu as críticas de Otacílio e citou tentativa de ingerência
Publicado em: 19 de dezembro de 2022 às 01:45
Atualizado em: 19 de dezembro de 2022 às 01:48
O CONTRA-ATAQUE
Sérgio Fleury Moraes
Surpreso com os novos ataques que recebeu de Otacílio Parras, Diego Singolani (PDS) estava relutante em rebater as declarações do ex-prefeito. Depois, concordou em dar entrevista, contra-atacou, rebateu as críticas e contou episódios até então desconhecidas da população. O prefeito afirmou, por exemplo, que Otacílio e seu filho Mauro Assis — dirigente do MDB de Santa Cruz do Rio Pardo — atacam a secretária Anelise Link Leitão por causa de uma mudança técnica feita na Saúde. Ela determinou que a mulher de Mauro fosse deslocada para trabalhar no Centro de Saúde, daí o inconformismo da família de Otacílio Parras.
Diego disse não entender o motivo de ser alvo constante dos ataques de Otacílio. Segundo ele, antes das eleições de 2020 nunca houve um acordo no sentido de que ele ocuparia apenas a cadeira durante quatro anos e que o ex-prefeito retornaria em 2024, com o apoio do grupo.
Como resposta aos ataques, Diego reafirmou que será candidato à reeleição e quer “liberdade” para governar.
“Nós trabalhamos juntos, inclusive em eleições, e sempre houve um respeito mútuo. Quando me tornei candidato, nunca foi acertado que seria ele quem disputaria as eleições seguintes. Não há testemunhas porque simplesmente isto não existiu. O que discutimos é que eu iria administrar com liberdade e que ele iria analisar a possibilidade de ser novamente candidato, ponderando questões familiares e de saúde”, contou Diego.
O prefeito lembra que sua escolha como candidato a prefeito em 2020 partiu de uma votação entre os secretários de governo na época. O próprio Otacílio, aliás, deu entrevistas sobre esta “votação” interna. “Meu nome foi escolhido por unanimidade”, disse.
De fato, Diego não era o candidato preferido de Otacílio. Ele chegou a convidar o comandante da Polícia Militar, capitão Cassiano Corrêa de Moraes, que não aceitou disputar as eleições.
Mas Diego citou outros nomes que Otacílio estudava na época. “Ele procurou o Gerson Garcia, Fernando Rampazo, Erik Barreto, Maurício Salemme e alguns grandes empresários de Santa Cruz”, contou.
Quando venceu as eleições, Diego disse que Otacílio não o cumprimentou e nem foi à sua casa, lotada de pessoas em seu entorno após a vitória eleitoral. “Uma semana depois, ele se lançou candidato”, lembrou.
Segundo o prefeito, o primeiro ano de seu governo foi muito difícil devido ao acirramento da pandemia. “Quem dava as coordenadas sobre a pandemia era o médico Jonas Jovanolli Filho, juntamente com a equipe da secretaria de Saúde e do consagrado médico José Medina. Não é verdadeira a informação que o Otacílio citou na entrevista, de que ele era o responsável por este trabalho”, afirmou.
Diego garantiu que sempre respeitou o ex-prefeito e, inclusive, concedeu a Otacílio o direito de nomear o secretário de Agricultura. “A indicação foi dele. Aliás, não foi nem indicação, mas até a contratação foi feita diretamente por ele. Eu dei esta liberdade e o próprio Otacílio conversou com o vereador Milton de Lima, salvo engano no Posto Beira Rio. Depois ele me ligou e fez a comunicação. Eu gostei, pois o Milton é uma pessoa humilde que fala a língua dos agricultores”, afirmou.
No entanto, houve problemas na secretaria que culminaram com o afastamento de “Mirtão”. “Descobrimos que o Milton estava fazendo serviços a particulares com interesses políticos. Eu não podia deixar de exonerar o secretário, pois nenhum deles está autorizado a fazer politicagem”, contou.
Foi no centro deste episódio, segundo o prefeito, que aconteceu o impasse na antessala do gabinete, quando Diego se preparava para atender dirigentes da “Festa do Peão de Boiadeiro”. Havia, segundo ele, cerca de dez pessoas no ambiente. De repente, ele percebe que chegam ao prédio o ex-prefeito Otacílio Parras e Milton de Lima.
“Eu olhei para o Milton e disse que ele havia feito coisa errada e isto não vai passar no meu governo”, contou. Diego, inclusive, brincou com o ainda secretário: “E não adianta vir aqui com ex-prefeito que isto não vai protegê-lo”.
“Em seguida, apontei para o Otacílio e disse que havia aprendido com ele. Foi, então, que ele deixou o prédio sem falar comigo e reclamou muito. Depois, ainda telefonou para vários secretários dizendo que eu devia desculpas a ele”, contou Diego Singolani.
Depois do ocorrido, Otacílio contou à imprensa que se encontrou casualmente com Milton de Lima. Ele disse que iria anunciar ao prefeito que não seria mais candidato em virtude de uma condenação judicial por improbidade. “Simplesmente eu não acredito nesta versão. Ele estava querendo passar pano no caso e defender uma irregularidade do secretário que ele mesmo indicou”, rebateu Diego.
Pouco tempo depois, Otacílio ocupou a tribuna da Câmara para, a pretexto de defender as contas de seu governo, atacar a atual administração. “Naquele momento, ele quebrou um segundo acordo, que era o respeito com meu nome na Saúde. Quando ele disse que eu deveria pagar o novo piso da enfermagem, sem nenhum lastro, o Otacílio estava usando a Santa Casa para fins políticos, ou pura politicagem”, afirmou. “Ele sabe que o hospital não podia arcar com mais R$ 300 mil mensais num momento em que um enorme rombo mantém a intervenção”, lembrou.
Diego disse que, a partir destes episódios, Otacílio passou a frequentar rotineiramente a Câmara para tentar manipular vereadores. “E eu nunca fiz qualquer retaliação”, garantiu.
Como exemplo, o prefeito conta que atendeu o pedido de Otacílio para implantar um plantão presencial no hospital ao custo de R$ 120 a hora. “Hoje, o Otacílio é um dos médicos mais bem remunerados pelo SUS na Santa Casa. Claro que ele trabalha, pois não quero ser injusto. Mas ele ganha pela hora médica, ganha pela cirurgia na hora do plantão, ganha pela consulta e pela prótese que vende para o hospital”, contou.
Neste momento, surgiu o encontro entre os dois, no mês passado. Segundo Diego, o assunto não foi exatamente a suspensão das cirurgias eletivas e, ao contrário do que sugeriu o ex-prefeito, ele não afirmou que retiraria sua candidatura.
“A verdade é que o Otacílio começou a fazer cirurgias de alto custo, elevando o custo da Santa Casa pelo preço das próteses. Foi quando eu liguei para ele para discutir o problema, já que a secretaria de Saúde havia determinado a suspensão porque o hospital de Santa Cruz é de média complexidade. Neste caso, o custo é totalmente suportado pelo município”, contou.
Diego disse que Otacílio quis falar sobre política e marcou uma reunião. “A conversa foi esclarecedora. Eu disse, olhando nos olhos, que ele não havia confiado em mim e perguntei o motivo de começar a me atacar”, disse.
O prefeito lembrou que chegou a sugerir uma chapa com Otacílio “na cabeça” e ele como vice, mas o ex-prefeito descartou. “Ele temia que, neste caso, eu teria de me afastar e o Edvaldo poderia assumir a prefeitura, fato que ele não aceitava”, disse. “Mas, repito, eu jamais disse que não seria candidato à reeleição”.
A postura de Otacílio surpreende, pois foi ele, no penúltimo ano de seu governo, quem escolheu Edvaldo Godoy (Republicanos) como candidato a vice, muito antes de Diego ser o escolhido para a prefeitura.
“Realmente eu sempre disse ao Otacílio que tinha ele como pai, em sinal de respeito. Mas quando ele disse na rádio que só tem quatro filhos, me deu a resposta sobre as eleições de 2024. Sim, eu sou candidato à reeleição”, declarou Diego.
“Sou tão honesto que assumo que sou cria dele. Mas isto não dá a ele o direito de criticar minha administração. Eu tenho sete anos em escola de Administração e mais 20 anos de carreira e experiência”, disse.
“Se ele comanda empresas e tem administradores para isto, isto não justifica suas declarações. É a mesma coisa de eu julgar uma cirurgia dele ou do filho, dizendo que está malfeita, contaminada ou com prótese invertida. Não sou médico”, afirmou.
Segundo o prefeito, falta a Otacílio “respeito” com seu nome e com a administração.
“Quando demonstra um certo desespero em se declarar candidato, o Otacílio retoma seu perfil de coronel. Isto é coronelismo, já que para ele nenhum deputado existiu antes dele, o prefeito não era nada antes dele ou o hospital não existia sem ele. Falta humildade”, afirmou.
Diego revelou que Otacílio parece ter um “plano megalomaníaco” de ser candidato a qualquer custo. Segundo ele, nas entrevistas a emissoras de rádio o ex-prefeito não pontuou as críticas, só falando mal de uma administração “que não responde a processos e contra a qual não há denúncias”.
Em relação à clínica de animais que Otacílio começou a construir na Expopardo e cuja obra foi suspensa por Diego, o prefeito lembrou que ele confundiu gastos anuais com mensais. “A UPA custa atualmente R$ 750 mil por mês, ou R$ 9 milhões por ano. O custo da clínica, de R$ 3 milhões, foi estimado pelo ex-secretário do governo dele. Quando assumi, percebi que a obra era inviável pelo alto custo. Então, decidi criar o projeto Pasa, cujo edital deve sair em breve, em que as clínicas veterinárias vão atender animais em situação de rua mediante convênios com o município. Fica muito mais barato”, explicou.
“Em relação à Saúde, ele fez críticas pelo fato de a secretária ter adotado uma ação técnica, que foi a transferência da mulher do médico Mauro Assis, filho do Otacílio, que estava dentro na sede da secretaria e foi para o Centro de Saúde da avenida Tiradentes. Foi quando o Mauro se irritou com a secretária, o pai comprou a briga e houve este desarranjo com a Anelise”, contou.
Diego também considerou deselegante o fato de Otacílio ter citado nas rádios os pais do atual prefeito. “Na verdade, acho que o Otacílio não queria um sucessor, mas um verdadeiro parlamento. Seria uma espécie de monarquia, onde eu seria o primeiro-ministro e o restante, seus súditos. Saiba que meus pais estão comigo e, se eu tivesse ouvido os dois antes, este rompimento teria ocorrido mais cedo”, declarou.
Para o prefeito, Otacílio está tentando atrapalhar o atual governo por interesses próprios. “Vou continuar meu trabalho. Eu não quero trazer a campanha de 2024 para 2022. Isto é atrapalhar a cidade que ele diz tanto amar. Está nítido que o interesse é próprio, de um projeto para voltar a ser prefeito”, disse.
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