O ex-prefeito Clodoaldo Gazetta (PSDB)
Publicado em: 18 de março de 2021 às 00:22
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 08:23
André Fleury Moraes
Clodoaldo Gazzetta demorou mais de 20 anos para ser eleito prefeito em Bauru após sucessivas tentativas. Conseguiu em 2016 e herdou o balanço de duas administrações bem avaliadas por ele próprio – embora critique pontos específicos das gestões anteriores.
Autor de avanços importantes para a cidade, como a construção de uma faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o ex-prefeito diz que a pandemia foi "o grande divisor de águas" de seu mandato.
Hoje tucano, trocou de partido por apenas três vezes desde que se iniciou na vida pública, há mais de três décadas.
Foi do Partido Verde por 24 anos – Gazzetta é ambientalista –, conseguiu espaço no PSD em 2016 a convite de Gilberto Kassab, e se filiou ao PSDB em 2019. Apesar do pouco tempo na sigla do governador Doria, diz que o "namoro com os tucanos" vem de longa data.
Na primeira longa entrevista desde que deixou o cargo após não se reeleger no ano passado, concedida por telefone ao DEBATE na noite desta quarta-feira, 17, Gazzetta faz autocrítica e admite que sua principal falha foi não ter investido em comunicação direta. “Me baseava em releases [notas de assessoria] para as rádios e jornais”, lembra.
Além disso, diz que a eleição de 2020 em Bauru foi "atípica", assim como a de 2018, e acredita que o cenário não voltará a se repetir nos próximos anos. “Torço para que [o mandato de Suellen Rosim] dê certo. Mas o que estamos vendo é um desastre”, aponta.
O tucano afirma que seguiu rigorosamente todos os protocolos de saúde para tentar frear o avanço da Covid-19 no município e que tomou medidas duras, mas necessárias. “Paguei um preço alto por isso”, lamenta. Ele cita números para mostrar que, à frente do comando da administração, a covid-19 se manteve estável. "O número de mortos foi alto, mas muito menor do que os primeiros meses de 2021", explicou.
O sr. tentou se eleger prefeito por mais de 20 anos, até que conseguiu em 2016. Mas houve alguns contratempos nos últimos anos de seu mandato cuja consequência foi a derrota nas urnas. A que o sr. atribui este declínio?
É difícil apontar uma regra para o que aconteceu. Acho que foi um conjunto de ações. Não investi em comunicação direta pelas redes sociais, o que talvez tenha sido um erro grave. Meu governo se pautou em mandar releases para a imprensa. Faltou estratégia.
Digo isso com tranquilidade, já que fomos o governo que mais fez obras na cidade. Foram 1.264 segundo um último relatório que fizemos.
E também teve a pandemia. Fui um dos únicos prefeitos do Estado que cumpriu rigorosamente as regras de distanciamento para que vidas fossem preservadas. Eu sabia que as medidas que deviam ser tomadas iam neste sentido. Nós não tínhamos vacina e o único parâmetro era o que aconteceu na Europa ainda no início da pandemia. Eu reuni a região e adotei posturas que julgava corretas. Não é à toa que Bauru foi, no ano passado, a quarta cidade do Estado que menos perdeu vidas. Hoje o cenário é outro.
No ano passado, praticamente abri mão de minha reeleição. Ou trabalhava minha imagem ou enfrentava a pandemia. Preferi o segundo. Acho que tomei a posição correta, mas paguei um preço alto por isso.
Mas tivemos impasses também na época das eleições. Um deles é a água, recurso que ficou escasso no final do ano passado. O problema é crônico. Perfuramos três poços durante os últimos anos, mas ainda assim não foi suficiente. Daí o resultado.
A falta d’água foi vista em vários municípios da região no ano passado. Em Ourinhos, por exemplo, o Ministério Público chegou a mover uma ação contra a Superintendência de Água e Esgoto porque o problema estava na distribuição e não em sua captação. Qual foi o grande problema da água em Bauru?
Acredito que tenha sido um erro de diagnóstico do Departamento de Água e Esgoto. Quando assumi o mandato, o DAE me passou um plano de contingência sobre as necessidades do setor para os anos seguintes. Eu fiz todas as obras, mas faltou água. Também vivemos a falta de chuva. Houve um período de três meses em que choveu 10 milímetros apenas. Tudo isso prejudicou.
Há uma linha que divide dois lados da história de Bauru: antes e depois do ex-prefeito Izzo Filho, que chegou a ser preso acusado de corrupção. O município já se recuperou disso?
Do ponto de vista político, sim, mas não do estrutural. Os governos ainda pagam a conta por muitas ações do Izzo. Asfaltos sem drenagem, que ainda hoje causam inundação, é um exemplo. Também tivemos um grande rombo nas contas públicas, algo que foi consertado em grande parte na gestão do Tuga [José Gualberto Tuga Martins Angerami, ex-prefeito].
Mas muitas obras inacabadas recaíram sobre a minha gestão. E eu nunca joguei os problemas para governos anteriores, como fizeram outros prefeitos. De qualquer forma, resolvemos muita coisa. Entregamos a parceria público-privada da iluminação pública, cujo pregão será disputado na Bolsa de Valores, e entregamos a estação de tratamento de esgoto com 70% da obra concluída.
Em 2018, fomos a quarta cidade do Estado que mais gerou empregos. No ano passado, Bauru foi o município que menos perdeu vagas de trabalho.
O sr. construiu sua carreira como ambientalista. Como ficou o setor em seu governo?
Temos dois problemas ambientais que precisam ser resolvidos. Um deles é o tratamento de esgoto, uma obra gigantesca, e o destino dos resíduos sólidos. Hoje nós coletamos o lixo da cidade e levamos para o aterro de Piratininga. Fizemos uma PPP dos resíduos sólidos que prevê a construção de uma usina de reciclagem, o que vai movimentar também o emprego para os coletores.
Outro ponto é a recuperação de mananciais. Eu fiz algumas ações quando trabalhei com ONGs, mas não havia ação do poder público. Quando eleito, aprovei uma lei que determina o repasse de pelo menos 1% da arrecadação do DAE à preservação do rio Batalha.
O problema sobre o lixo não se limita a Bauru. Em Santa Cruz do Rio Pardo, por exemplo, o aterro sanitário foi definitivamente interditado. Em Bernardino de Campos há um aterro em situação irregular, caso que já multou o ex-prefeito Odilon Rodrigues Martins. Na prática, o que o governo pôde fazer para resolver isso?
A prefeitura usava o aterro de Bauru até 2014. No ano seguinte, perdeu a licença da Cetesb porque o espaço ficou saturado. Nenhuma cidade do Brasil fica regular se usar um aterro sanitário. Ele é o último passo da lei de resíduos sólidos.
A PPP do setor é um investimento de mais de R$ 150 milhões. Vai gerar empregos e evitar problemas futuros. Mas não sei se o governo atual tem interesse na continuidade do processo.
O sr. é réu em ações movidas pelo Ministério Público e chegou a ter os bens bloqueados em caráter liminar em uma delas. Acredita que elas possam ser um impasse para seu futuro político?
São quatro processos contra mim. Todos são tranquilos sob a perspectiva da defesa. Não há comprovação alguma de dolo em nenhum deles.
A ação em que foi decretado o bloqueio de meus bens é absurda, totalmente descabida. Bauru contratava uma empresa para repassar as verbas da Cultura às escolas de samba. Por orientação do próprio MP, articulamos a criação de uma liga das escolas de samba, que ficou responsável pelo repasse. E o MP argumenta que nós deveríamos ter feito uma licitação para contratar a liga que nós mesmos ajudamos a criar.
O sr. migrou do PSD ao PSDB em 2019. Por que decidiu pela mudança de partido?
Isso já era um namoro antigo. Eu deveria ter sido o candidato tucano em 2016, mas houve um contratempo e acabei saindo pelo PSD. Mas já é um relacionamento de longa data. Em 2019 fui convidado pelo governador Doria e pelo ex-governador Geraldo Alckmin para me filiar ao PSDB. Como sempre tive interesse pela sigla, foi algo natural.
As eleições de 2018 mostraram uma derrocada do PSDB, que pela primeira vez desde 1994 não chegou ao segundo turno. Isso se reflete nas grandes cidades também. Alguns tucanos defendem a ‘reinvenção’ do partido nos municípios. Como o sr. vê o futuro tucano em Bauru?
O PSDB continua sendo um dos principais partidos do País, e isso será mostrado nas eleições do ano que vem. O ano de 2018 foi atípico para todos nós, ninguém imaginava que Bolsonaro ganharia a eleição. Não acho que devamos nos reinventar, mas o PSDB precisa ser lapidado. Formar novas lideranças, garantir novos filiados. O governador Doria é uma figura importante do partido.
Como estão seus projetos para 2024?
Continuam os mesmos. Como não fizemos um governo populista, tivemos dificuldades na implementação de projetos. E não é da noite para o dia que se transforma uma cidade como Bauru, que possui milhares de problemas.
Acho que a eleição de Suellen é um reflexo de 2018 e também foi atípica. Havia uma polarização muito grande entre mim e o Raul [Raul Gonçalves de Paula, candidato a prefeito derrotado no segundo turno] e ela surgiu como terceira via. Mas não tinha e não tem projeto para a cidade.
Qual avaliação o sr. faz sobre os primeiros meses de Suellen?
Eu torço muito para que dê certo, mas não é o que estamos vendo. Os números da pandemia estão catastróficos. Não podemos tomar, sobretudo neste momento, posições populistas. Ela se envolve em discussões com o governo estadual, e isso não favorece ninguém. Bauru é uma cidade limitada, sem uma grande arrecadação. Se Bolsonaro sair em 2022, Suellen certamente terá dificuldades até 2024.
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