Severo esquece passado para apoiar Otacílio

Sérgio Fleury Moraes

O ex-vereador Luciano Severo vai subir no palanque do ex-prefeito Otacílio Parras (PSB), candidato a prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo. Os dois protagonizaram cenas de ataques, inclusive pessoais, a partir de 2018, quando Severo, na condição de presidente de uma CPI que investigou a Codesan, deixou o governo constrangido com algumas investigações.

Luciano Severo foi o vereador mais votado nas eleições de 2016, quando apoiou Otacílio. Antes, disputou o cargo de prefeito em duas ocasiões, enfrentando Otacílio e a ex-prefeita Maura Macieirinha– 2008 e 2012. Foi nomeado líder do governo na Câmara no início do governo do PT, partido pelo qual Otacílio era filiado, e era cotado para ser o candidato do grupo para a sucessão de 2020. Até que houve o rompimento durante a chamada “CPI das Horas Extras”, da qual o então vereador foi o presidente.

Na verdade, a CPI foi engendrada pelo próprio governo da época, como medida para atingir a oposição. O efeito foi inverso, uma vez que a investigação descobriu que a maioria das irregularidades aconteceram no governo do próprio Otacílio Parras, por intermédio do então presidente da Codesan, Cláudio Agenor Gimenez. O relatório final apontou isto, mas o caso foi tido como “prescrito” pelo Ministério Público.

Restou, então, uma forte inimizade entre Otacílio e Severo. Ele começou o ano de 2018 como líder do governo, mas acabou sendo destituído e eleito por Otacílio como seu principal adversário político.

A partir daí e durante mais de dois anos, os dois trocaram farpas pela imprensa, com acusações políticas e de cunho pessoal. Ambos se acusaram de mentir e Severo chegou a exibir um cheque do ex-prefeito, não descontado, datado de 2006, que teria sido dado por Otacílio para que ele não disputasse as eleições de 2008. Seria uma tentativa de “comprá-lo”. O ex-prefeito disse que o cheque era uma ajuda para Severo pagar despesas da campanha a deputado nas eleições de 2006.

Há algumas semanas, porém, Severo e Otacílio começaram a conversar sobre as eleições de 2024. O ex-vereador disse que também conversava com o atual prefeito Diego Singolani (PSD), o adversário de Otacílio no próximo ano.

Ao mesmo tempo, o ex-prefeito também mudou seu discurso. Em entrevista à Band FM há duas semanas, Otacílio deu uma declaração surpreendente: “Quando é para o benefício da cidade e da população, é preciso relevar os fatos, analisando a idoneidade da pessoa e sua capacidade de trabalho. O Severo é uma pessoa idônea, trabalhadora e preparada para fazer a política do bem”, afirmou.

Luciano Severo também esqueceu o passado para anunciar o apoio a Otacílio nas emissoras de rádio de Santa Cruz do Rio Pardo. Entretanto, embora diga que estará no palanque do ex-prefeito, ele deixou claro que ainda não se decidiu se vai se candidatar a uma cadeira na Câmara.

“Eu estive muito próximo do Diego, mas depois houve um distanciamento”, revelou na rádio 104 FM. Segundo o ex-vereador, o problema foram denúncias de supostas irregularidades que ele apresentou ao prefeito, sem ter recebido qualquer resposta. Em seguida, disse, houve uma aproximação com Otacílio Parras. “As mudanças na administração não aconteceram. Assim, eu me senti desprestigiado”, afirmou, citando o nome do secretário de Turismo Gerson Garcia, que teria autorizado despesas irregulares.

Severo não poupou elogios ao ex-prefeito, afirmando que Otacílio fez um governo que é lembrado pelas ruas. Ele também se colocou à disposição para ser o candidato a vice na chapa de Otacílio, caso o já indicado vereador Milton de Lima (PL) desista. “Depois de tantas participações em política, aprendi que política se faz em grupo. Então, se surgir o convite, numa possível desistência do Milton, eu vou analisar, ponderar e conversar com minha família”, afirmou.

Neste caso, porém, dificilmente Severo seria convidado por Otacílio. O ex-prefeito não costuma convidar políticos que já integraram a oposição para uma eventual composição. Em 2019, ele anunciou que Edvaldo Godoy – até então tido como oposicionista – seria o vice na chapa governista que disputaria as eleições de 2020. Só depois Otacílio anunciou o “cabeça” da chapa, o atual prefeito Diego Singolani (PSD). Se o ex-prefeito hoje diz que se arrependeu de ter indicado Diego, o mesmo se aplica a Edvaldo, atual vice-prefeito.

Severo disse que a aproximação a Otacílio significa deixar a legenda do Republicanos, que hoje é presidida em Santa Cruz por Edvaldo Godoy. O ex-vereador revelou que quer montar na cidade o Aliança Brasil. “É um partido de centro-direita, com a qual me identifico”, disse.