‘Birrento’, Lucas avisa que vai deixar o consórcio do Samu e manda secretário confrontar prefeitos

Sérgio Fleury Moraes

Numa reunião tensa realizada há pouco mais de uma semana na sede da Ummes, em Santa Cruz do Rio Pardo, o município de Ourinhos anunciou que vai rescindir o contrato de rateio regional do Samu — Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Como ocorre em reuniões com temas sensíveis, o prefeito Lucas Pocay (PSD) não compareceu, enviando como seu representante o secretário de Saúde de Ourinhos, Donay da Silva Jacintho Netto. Houve críticas de prefeitos à atitude de Lucas Pocay.

Na verdade, Ourinhos parece ignorar uma decisão judicial do dia 2 de outubro, quando a juíza Alessandra Mendes Spalding concedeu liminar para que a Ummes reassumisse a gestão da base do Samu Regional de Ourinhos, conforme contrato firmado com todos os municípios da região há muitos anos.

Três dias antes, o prefeito Lucas Pocay havia “confiscado” as instalações do Samu, com sua equipe quebrando o portão e invadindo o espaço sem autorização judicial. O procurador-geral do município, Renan Oliveira Ribeiro, chegou a “requisitar” os funcionários do Samu, que pertencem à organização Abedesc e são pagos pela Ummes. De acordo com a juíza, a “tomada” do Samu pelo município teria sido “unilateral e apressada”, sem tempo hábil, inclusive, para a contratação de novos funcionários.

Enquanto os prefeitos se reuniam na sede da Ummes no dia 6, ocasião em que o secretário Donay anunciou a quebra do rateio do sistema Samu, funcionários da Vigilância Sanitária estiveram na sede do sistema regional de Ourinhos para uma fiscalização, a mando do prefeito Lucas Pocay. Desde 2012, quando o sistema regional foi criado, nunca houve qualquer fiscalização deste tipo.

No mesmo dia, foram lavradas oito infrações administrativas, como falta de licença sanitária das ambulâncias e até um medicamento com prazo de validade expirado. Sobre esta última infração, técnicos do Samu Regional alegam que nunca houve uso de qualquer medicação vencida, colocando sob suspeita o próprio município de Ourinhos, uma vez que as instalações ficaram sob responsabilidade da prefeitura durante três dias, até que a Justiça determinou a suspensão do “confisco”. Assim, é possível que um medicamento com validade vencida pode ter sido inserido no Samu por terceiros.

Sobre as ambulâncias, o contrato do Samu com as prefeituras determina que a responsabilidade pelas viaturas é da própria secretaria de Saúde de Ourinhos. Ou seja, cada município detentor de base do Samu deve se responsabilizar pela estrutura física e pelas documentações das ambulâncias.

Poucas horas depois, o secretário de Saúde Donay Netto representou o prefeito Lucas Pocay na reunião com os prefeitos da Ummes, anunciando que Ourinhos vai deixar o sistema regional do Samu “de um jeito ou de outro”. Quando alguns prefeitos alertaram que a medida poderá prejudicar o sistema de urgência e emergência de todos os municípios, Donay respondeu que “infelizmente” esta era a decisão do prefeito Pocay.

A posição provocou revolta entre os prefeitos. Joel Rodrigues, de Canitar, declarou que Lucas Pocay estava desrespeitando os demais municípios e pensando “somente nele”.

O mais exaltado foi Jordão Antônio Vidotto, de Óleo, que se levantou e disse que não iria mais “perder tempo” na reunião. Ele disse ao secretário Donay para avisar Lucas Pocay de que o colega prefeito não será bem recebido em Óleo caso seja candidato a deputado estadual, e que deverá ficar conhecido como o político que ajudou a acabar com a saúde na região.

Jordão sugeriu que Pocay estava querendo “acabar com a Ummes” pelo fato de ter perdido a eleição para a presidência do consórcio para Sergio Guidio, prefeito de Ipaussu. A eleição aconteceu no final do ano passado e Sergio derrotou Lucas, sendo reeleito presidente da Ummes

Quem é Donay, o secretário
que nada tem com Ourinhos
 

O prefeito Lucas Pocay (PSD) praticamente loteou seu governo entre políticos estaduais. É por isto que as pastas mais importantes da administração estão nas mãos de pessoas que não têm qualquer vínculo com Ourinhos. Em maio, por exemplo, Lucas nomeou um desconhecido (para Ourinhos) Alex Sandro da Silva Baim, que havia sido vítima de atentado em Jandira, na Grande São Paulo. Dois meses depois, Baim foi preso em Ourinhos transportando uma pistola automática calibre 40 — e municiada — num veículo oficial da prefeitura. Ele continua no cargo.

Donay da Silva Jacintho Netto é outro caso de esquema político. Nomeado secretário de Saúde em 2021, ele é de Santo André e, segundo consta, integra um grupo ligado ao ex-governador Márcio França. Ele foi candidato a vereador em Santo André nas eleições de 2016, mas não teve votos suficientes para se eleger.

Donay chegou a Ourinhos somente para ser nomeado como agente político. Quando foi efetivado como secretário de Saúde pelo prefeito Lucas Pocay, o portal “Biz” de Ourinhos denunciou que ele também era, na mesma época, assistente de diretoria da Cohab de São Paulo.

A acumulação de cargos seria ilegal, mas a prefeitura anunciou que ele havia pedido demissão da Cohab imediatamente.

Segundo informações, Donay segue como proprietário de uma agência de publicidade em Santo André.

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