Pocay tenta cooptar prefeitos da região para um ‘novo Samu’

Sérgio Fleury Moraes

O prefeito Lucas Pocay (PSD) nunca escondeu sua irritação após a frustrada tentativa de assumir à força as instalações do Samu Regional de Ourinhos, no final de setembro, atitude que foi repelida por uma decisão judicial. Desde então, o prefeito anunciou sua retirada do rateio do Samu regional e agora tenta formar um novo grupo de municípios.

Pocay tem se reunido com prefeitos de municípios integrantes da Ummes – União dos Municípios da Média Sorocabana – para tentar atrai-los para o novo projeto. Na verdade, Ourinhos já anunciou que vai deixar o rateio do Samu regional no final do ano, embora continue na Ummes.

Isolado, Pocay terá de bancar as despesas do novo serviço em Ourinhos. Quando tentou tomar as instalações do Samu Regional no final de setembro, o prefeito contratou emergencialmente uma empresa de Londrina por quase R$ 6 milhões para fazer a gestão do Samu de Ourinhos, preço superior àquele que o município pagava à Ummes. A “invasão”, porém, foi rechaçada pela Justiça.

A imprensa de Ourinhos tem publicado “releases” distribuídos pela assessoria de comunicação do prefeito, chamando o projeto de “revolucionário” e com um texto farto em elogios. Diz que o novo projeto visa “a modernização do equipamento e das instalações”, melhor atendimento e que a nova estrutura terá “tecnologia de ponta”.

Na verdade, Pocay quer atrair municípios da região por dois motivos. Em primeiro lugar, enfraquecer a Ummes, uma vez que não engoliu a derrota judicial após a frustrada tentativa de tomar as instalações do Samu regional. Além disso, ele quer dividir a conta do serviço com outros prefeitos da região, com promessas de investimentos que dificilmente serão feitos.

Ourinhos é o município da região que mais sofreu com a queda nos repasses. Pocay “inchou” o governo com muitos comissionados e autorizou gastos considerados desnecessários ou suspeitos. O resultado foi uma crise sem precedentes, que cortou pela metade o expediente da prefeitura e num decreto de contingenciamento de despesas, proibindo uma série de gastos e investimentos até o final do ano.

Sem dinheiro para bancar sozinho o Samu, Lucas Pocay agora tenta cooptar parceiros na aventura.

Um dos prefeitos que podem apoiar Lucas Pocay é o de Salto Grande, Mário Rosa (PL). Ele é irmão do deputado federal Capitão Augusto Rosa (PL), que foi eleito por Ourinhos e hoje mora em Bauru.

O curioso é que o deputado Rosa foi arqui-inimigo de Lucas Pocay até 2021, quando fizeram as pazes. Antes, Capitão Augusto chegou a denunciar, na tribuna da Câmara dos Deputados, a administração do prefeito ourinhense como “corrupta”.

Antes das eleições de 2020, por exemplo, o deputado Capitão Augusto Rosa chegou a anunciar que colocava seu carro contra o de Lucas Pocay como uma aposta eleitoral. Rosa apoiava o candidato Robson Sanches, que perdeu as eleições. A aposta não foi paga e Sanches foi cooptado posteriormente por Lucas Pocay, sendo nomeado secretário.

Com o deputado e o prefeito juntos novamente na política, é tido como certo que o prefeito de Salto Grande, irmão do deputado federal, vai cerrar fileiras em torno de Lucas Pocay. Quem coordena a missão de tentar cooptar os prefeitos para o “novo” Samu é o secretário de Saúde de Ourinhos, Donay Netto, que era de Santo André e chegou à cidade para assumir a pasta a convite do prefeito.

Ourinhos ainda não deixou a Ummes, mas a dissidência não é improvável. Em dezembro, o município, por iniciativa de Lucas Pocay, deixa de pertencer ao rateio do Samu Regional, que é o financiamento entre as cidades do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. A estrutura é regionalizada e a regulação vai passar a funcionar em Santa Cruz do Rio Pardo. A decisão foi dos municípios que integram a Ummes.