Chocolataria foi fundada pelo saudoso Frei Chico nos anos 1990, mas hoje é registrada em nome de particular
Publicado em: 06 de setembro de 2023 às 18:56
Sérgio Fleury Moraes
Fundada há 36 anos pelo saudoso Frei Francisco Pessuto, o “Frei Chico”, o Centro Social São José passa por momentos conturbados. Há uma espécie de disputa política dentro da instituição, cujo objetivo ainda é um mistério. O fato é que colaboradores antigos, alguns com mais de 20 anos de trabalho no Centro Social, estão sendo demitidos sem justificativas. Além disso, a “Chocolataria Frei Chico” está registrada desde 2021 como empresa privada de propriedade da mulher do presidente da entidade, Élcio Belei.
A crise interna começou em meados de 2021, quando houve denúncias contra a “Casa de Apoio à Criança e ao Adolescente Adelina Aloe”, entidade fundada no início dos anos 1990 também por Frei Chico, cujo mantenedor é o Centro Social, e destinada ao acolhimento em período integral de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. Houve mudanças no quadro de colaboradores que atuavam diretamente com os acolhidos.
A entidade chegou a sofrer um procedimento judicial para destituição da diretoria. O ato tinha o apoio da ex-secretária de Assistência Social Elaine Botelho, mas os dirigentes conseguiram provar que todas as providências foram tomadas.
Ao mesmo tempo, a legislação impôs mudanças na “Casa de Apoio à Criança”, que não poderia mais ser localizada num espaço afastado – a sede fica na saída para Bernardino de Campos – e cuja construção deve se assemelhar a uma residência. Com isso, as atuais dependências serão desativadas e a construção de uma nova sede já foi iniciada ao lado do Centro Social, no bairro de São José.
No entanto, a política interna vem abalando a entidade desde a posse da atual diretoria, liderada pelo presidente Élcio Belei. Pelo menos duas diretoras com mais de 20 anos de trabalho na instituição foram sumariamente afastadas, além de uma psicóloga e uma assistente social. A primeira justificativa de Belei, dada em entrevista à rádio 104 FM, foi “renovação do quadro”.
A última demissão aconteceu na sexta-feira, quando Cristiane Stramandinolli foi afastada, provavelmente, segundo consta, para ceder a vaga a Ana Laura Camparini, que até o mês passado era a secretária dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Ela pediu exoneração do governo alegando que iria para a iniciativa privada.
Uma outra polêmica é sobre uma suposta pressão para “desabrigar” crianças da “Casa de Apoio”. Hoje, há seis abrigados, inclusive um bebê que está em processo de adoção. A diretoria, entretanto, diz que isto compete ao Poder Público.
No centro da discussão, há um fato que não é de conhecimento de todos aqueles que se dedicam ao Centro Social, inclusive dos diretores mais antigos. Desde 2001, a “Chocolataria Frei Chico” está registrada como uma empresa particular, cuja única proprietária é Suzete Gazola Belei, mulher do presidente da entidade, Élcio Belei.
A chocolataria iniciou suas atividades em 1996, inicialmente produzindo ovos de páscoa para as crianças da instituição. Logo, Frei Chico percebeu que a fábrica poderia ser uma fonte de recursos para a entidade. Surgiu, então, a chocolataria, que ganhou o nome de “Frei Chico” após a morte do religioso, em 2004.
O registro contábil em nome de Suzete Gazola Belei data de 4 de março de 2021. O capital social é de R$ 10 mil e o endereço é o da entidade, na rua Francisco Carlomagno. A proprietária é, inclusive, a sócia-administradora. Porém, ela não faz parte da diretoria do Centro Social São José.
Procurado, o presidente do Centro Social, Élcio Belei, explicou que o registro da empresa em nome de sua mulher foi uma necessidade pelo fato da entidade ser sem fins lucrativos e, portanto, não pode gerir qualquer atividade comercial. “A empresa surgiu porque precisamos emitir nota para a prefeitura. É a única forma de emitir nota fiscal”, disse Élcio.
O presidente explicou que “ninguém queria” ceder o nome como proprietário da empresa, que acabou sendo registrada em nome de Suzete. “Nós tentamos de todas as maneiras colocar o Centro Social como proprietário da chocolataria, mas juridicamente isto não é possível”, explicou.
O problema é que, sendo uma empresa particular, a “Chocolataria Frei Chico” não é obrigada a prestar contas de seu movimento financeiro. Neste caso, também é desconhecida como é feita a transferência de recursos para a entidade.
A reportagem recebeu informação de que a escolha não foi homologada por toda a diretoria e nem discutida. Élcio, porém, garante que tudo está registrado em ata oficial do Centro Social São José.
Sobre as demissões, Élcio afirmou que a entidade está com dificuldades “lá em cima”, referindo-se à documentação no governo federal. “A única maneira que encontrei foi colocar gente nova, com ideias novas. O problema é que as pessoas não estavam conseguindo resolver estes problemas, daí a necessidade de mudança”, disse.
Em seguida, o presidente da instituição disse que havia “problemas de relacionamento com funcionários e crianças”, para justificar as demissões. “É uma série de coisas que vinham ocorrendo e que estavam desgastando a gente. Chegou num ponto que não dava mais: ou muda ou para”, disse. Élcio afirmou que até o respeito entre funcionários estava em queda.
Enquanto tudo isto acontece, o Centro Social São José luta para não perder certificação como entidade beneficente de assistência social. Há problemas em manter este registro no Cebas, o órgão federal de certificação de entidades beneficentes de Assistência Social na área de Educação. Se não conseguir, a entidade vai ter de arcar com os tributos patronais.
Em meio à crise interna, o Centro Social retirou do ar sua página na internet, onde contava sua história e os sonhos de seu fundador. No lugar, entrou uma página comercial, com ofertas de produtos de chocolate e nenhuma alusão à entidade que há décadas cuida de dezenas de crianças. O risco é o esquecimento do legado de Frei Chico.
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