Mário Nelli e ‘Pernalonga’ vão ganhar bonecos no Posto Kafé

O teclado que Mário Nelli acionava todos os domingos no “Posto Graal Estação Kafé” ainda está no mesmo lugar, do mesmo jeito. Havia treze anos que o mais famoso músico da história de Santa Cruz do Rio Pardo divertia os clientes no restaurante da rodovia SP-225. Na frente do teclado, porém, falta o músico, que morreu em dezembro do ano passado vítima da Covid-19. Agora, o estabelecimento vai homenagear Mário Nelli com um boneco.

O “Graal Kafé” possui vários bonecos e é um ponto de atração turística. Há, inclusive, uma réplica da antiga estação ferroviária de Santa Cruz do Rio Pardo com um trem de verdade, puxado por uma locomotiva a vapor chamada “Sinhá Moça”. Aos domingos, o trem percorre alguns metros levando os clientes. Pelos espaços do estabelecimento, há bonecos do maquinista, do chefe da estação, do garçom e do cozinheiro.

Agora o teclado terá Mário Nelli à sua frente, numa homenagem do Kafé àquele que tornava os domingos um ponto de encontro entre famílias. Aliás, era comum o restaurante receber grupos do Paraná e de cidades distantes para ver e ouvir Mário Nelli.

O “Graal Kafé” também fará uma homenagem a Paulo Sérgio Pereira de Castro, o “Pernalonga”, que também vai ganhar um boneco. Colecionador de carros, bicicletas e objetos antigos, “Pernalonga” cede seus veículos para exposição no pátio do “Kafé” há anos, ajudando a tornar o espaço temático ainda mais “retrô”. O modelo mais atraente é um reluzente Ford 1946, que ainda hoje é usado no transporte de noivas.

“Pernalonga” é colaborador do “Kafé” há pelo menos 15 anos. “É uma lembrança a duas pessoas que durante muitos anos ajudou nosso estabelecimento a fazer as pessoas sorrirem. O Pernalonga ainda está com a gente e, por isso, achamos que também merece um boneco”, disse Natanael Serafim da Silva, 43, gerente operacional do estabelecimento.

“A presença do Mário Nelli por mais de uma década foi muito gratificante para nós”, avalia Natanael. O boneco do músico será colocado exatamente no piano que ele dedilhou por muito tempo, que ainda é ornamentado com fotos de Mário Nelli.

Segundo o gerente, aos domingos vinham caravanas e ônibus com pessoas para apreciar o músico de Santa Cruz do Rio Pardo. “Vinha muita gente de Maringá, pois o Mário cantava muito a música com o nome da cidade”, lembrou.

O triste é que muitas destas pessoas só souberam do falecimento de Mário Nelli quando viajaram para ouvir novamente o músico. “Era muito difícil ele se ausentar aos domingos. Mesmo quando ficava doente, dava um jeito de alguém levá-lo e se esforçava para entreter as pessoas. Ele merece muito”, afirmou o gerente.

Já o boneco de Pernalonga será colocado no espaço onde ficam os automóveis antigos. “É exatamente o lugar em que ele costuma ficar em alguns dias, recebendo as pessoas e visitantes. Então, cada um dos homenageados terá um boneco em seu cantinho”, explicou Natanael.

Os dois bonecos, feitos pela consagrada artista plástica Gigi Manfrinato, já estão prontos. O planejamento da direção do “Graal Kafé” é que eles sejam incorporados ao cenário até o final do ano.

Gigi Manfrinato tem bonecos espalhados por toda São Paulo, onde ela possui seu ateliê. A artista usa papel, cola, gesso, argila e cimento para modelar suas esculturas. Ela já fez várias exposições em São Paulo, São José do Rio Preto, Itapetininga, Campinas e vários outros municípios.

Sua característica, além da arte visual, é que os bonecos têm tamanho natural. Gigi assina todas as esculturas que estão no “Graal Kafé”, em Santa Cruz do Rio Pardo, junto com sua parceira Sandra Lee, que já faleceu.

Provocadora, Gigi gosta que as pessoas interajam com as esculturas — e é exatamente isto o que acontece no “Graal Kafé”. Uma de suas exposições, no Teatro Sesi em Rio Preto, foi “MySelfie”, com 23 personagens de diferentes épocas, que rendeu centenas de fotos nas redes sociais. Há vídeos em que crianças “conversam” com as esculturas, fantasiando situações.

Ela costuma receber encomendas, mas admite que não gosta de fazer réplicas de pessoas. “O problema é quando você não conhece. Assim, é chato fazer boneco através de retratos. A gente não tem muita referência”, explicou. “Gosto, na verdade, de fazer figuras do jeito que eu quero, que eu tiro da minha cabeça”, disse.

Mas Gigi não abandona nenhum desafio. No ano passado, pouco antes das eleições, ela fez um boneco do presidente eleito Lula. “Foi uma encomenda de um petista roxo, dono de um mercado no Bexiga. Ele mandou fazer para ver se o Lula ganhava. Deu certo”, lembrou.