SOCIEDADE

Morre Jaburu, o colunista que rompeu o preconceito

De família pobre e quase sem estudos, Wanderley Lopes se transformou num requisitado colunista social da imprensa de Santa Cruz do Rio Pardo

Morre Jaburu, o colunista que rompeu o preconceito

Wanderley, conhecido como “Jaburu”, foi uma das personalidades mais conhecidas de Santa Cruz

Publicado em: 04 de outubro de 2023 às 18:14
Atualizado em: 04 de outubro de 2023 às 19:06

De família pobre, com oito filhos e poucos estudos, Wanderley Ferreira Lopes é um caso raro de alguém que rompeu todos os preconceitos e ingressou no seleto mundo da elite de Santa Cruz do Rio Pardo e toda a região como colunista social. Ficou conhecido como “Jaburu” devido ao assobio do conhecido pássaro que costumava cantarolar. Ele morreu na segunda-feira, 25, vítima de várias complicações de saúde. Tinha 88 anos.

Jaburu adorava a política e, desde jovem, era adepto do grupo do deputado Leônidas Camarinha, chamado de “vermelho”. Porém, transitava com facilidade no terreno dos adversários.

Viúvo ainda relativamente jovem, Wanderley se viu com oito filhos para criar. E não desanimou. Nos anos 1970 e 1980, ele coletava propaganda no comércio de Santa Cruz do Rio Pardo para distribuir cartazes de campanhas educativas, principalmente do trânsito. Lucrava um pouco, é verdade, mas passava dificuldades.

 

A única foto de Wanderley quando ainda era criança

 

No mesmo período, ele também foi uma espécie de “agente” de duplas sertanejas, praticamente sem cobrar nada. Uma destas duplas que fizeram história em Santa Cruz foi “Alcyr e Alcynir”.

No final dos anos 1970, Jaburu passou a ser colunista social do jornal “A Folha”, fundado pelo ex-prefeito Carlos Queiroz. Tinha um jeito peculiar de comentar as “fofocas” da sociedade e logo caiu no gosto da população. Quando “A Folha” fechou, Wanderley participou de outros jornais, como “Santa Cruz Notícias”, também ligado a grupos políticos.

Mas o semanário também fechou as portas e, então, Jaburu usou sua esperteza para tentar ganhar um espaço no DEBATE. Na época, o jornal não possuía coluna social e seu diretor nem pensava na hipótese. Esperto, Wanderley usou empresários anunciantes do jornal para sugerir a publicação de notas sociais.

Como um teste para avaliar a reação dos leitores, o jornal publicou uma coluna social assinada por Jaburu em 1987. Foi um sucesso tão grande que a página foi mantida por décadas. Ele escrevia com a ajuda de amigos, uma vez que cursou apenas o primário.

O diretor do DEBATE lembra que, na época, cursava Jornalismo na Unesp e viajava de ônibus todos os dias para Bauru. Às segundas-feiras, costumava levar jornais para distribuir entre os universitários durante a viagem. Na primeira vez em que a coluna foi publicada, o jornalista percebeu que os estudantes ficavam focados na coluna social.

 

Nos anos 1970, Jaburu (à esquerda), foi “empresário” da dupla sertaneja Alcyr e Alcynir

 

Foi o período de maior sucesso de Wanderley, que rompeu todos os preconceitos sociais e, sem pedir licença, acabou ingressando no mundo fechado da elite santa-cruzense. Era comum Jaburu ser recepcionado na porta de alguma festa pelo próprio anfitrião que, inclusive, fazia questão de servir a bebida ao colunista. Ele foi amigo, por exemplo, de todos os poderosos irmãos da família Quagliato, convidado para todos os eventos.

Claro que Jaburu conhecia o significado de gratidão e estampava as fotos coloridas das festas em sua coluna. Inteligente, ele aprender até a manusear um computador, onde escrevia seus textos.

 

Acima, Jaburu com suas camisas características; na foto abaixo, apesar de possuir pouco estudo, Jaburu aprendeu a usar computador

 

A partir dos anos 1980, Wanderlei passou a promover um evento próprio, com direito a banda e tudo o mais, nos salões do Icaiçara Clube. Era um baile em que as mulheres mais belas da sociedade eram eleitas, com direito a flores e placas de homenagem. O próprio Jaburu fazia a entrega às escolhidas, durante o evento de gala.

O colunista era amante da televisão e não perdia um único programa de Silvio Santos aos domingos. Contava que, para não perder uma única cena, instalou vários aparelhos de TV em sua residência. “Se vou à cozinha, continuo assistindo lá”, brincava. Gostava de usar roupas estampadas e coloridas e foi até tema de Carnaval.

A partir da segunda década dos anos 2000, Wanderley Lopes passou a ter problemas de saúde, como diabetes e catarata. No entanto, tinha medo de passar por cirurgias e foi protelando seus problemas. Também tinha receio da morte e contava história sobre um sonho, onde um motorista de táxi já falecido apareceu para lhe oferecer uma “corrida”. Como o sonho aconteceu num final de ano, Jaburu ficava preocupado durante o Natal e Ano Novo. Era um drama que o perseguiu durante muitos anos.

Um dia, o diretor do jornal deu um “ultimato” a Jaburu: “Se o senhor não for ao médico para se cuidar, a coluna não será mais publicada”. Claro que era uma forma de pressionar Wanderley a cuidar da própria saúde. O colunista, preocupado, acabou cedendo.

Dias depois, apareceu na redação feliz, mostrando um parecer médico apontando que ele estava “apto” para qualquer cirurgia. No entanto, ficou nisso e Jaburu não procurou a ajuda da medicina.

Seu estado de saúde piorou a ponto de ele perder a visão e, logo em seguida, ficar acamado. Porém, segundo os filhos, a mente ainda funcionava perfeitamente, a ponto de perguntar sobre as pessoas e o que acontecia na cidade. Ficou muito deprimido no início do ano passado, ao ser informado da morte do advogado João Nantes, ex-presidente do Icaiçara Clube e seu grande amigo.

Nos últimos dias, a chama sempre exuberante e ativa de Jaburu foi se apagando. Ele morreu na segunda-feira, aos 88 anos, sendo sepultado no “Cemitério da Saudade” na tarde do mesmo dia. Eterno colunista social e um vencedor na vida, Wanderley Ferreira Lopes deixou os filhos Heloísa, Antônio, Carlos Augusto, Regina, Fany, Luciano, Márcia e Flávia. Deixou, ainda, inúmeros seguidores que aprenderam o respeitar o homem simples e autodidata.

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